Jornal Nova Geração

FIM DE UMA ERA

Languiru fecha últimas unidades da rede de supermercados

Fechamento definitivo ocorreu com o fim do estoque na matriz, no bairro Languiru. As duas lojas do bairro Canabarro, e as de Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul e Poço das Antas, fecharam as portas na quarta-feira

Supermercado do bairro Languiru apresentava a maior parte das prateleiras vazias ao longo da quarta-feira. Crédito: Jhon Willian Tedeschi

A Cooperativa Languiru encerrou as operações de supermercados nesta semana. A decisão foi publicada na noite da terça-feira, 24. Ainda na quarta, 25, cinco lojas fecharam em definitivo – duas no bairro Canabarro em Teutônia, e as de Poço das Antas, Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul. Já a unidade central, no bairro Languiru, ficou aberta até a quinta-feira, 26.

A crise da cooperativa, aliada à dificuldade de reabastecimento das unidades, acelerou o processo. A estimativa é que seriam necessários R$ 15 milhões para manter as atividades. Em nota, a Languiru justificou a decisão de fechamento pelo “atual momento de dificuldade em oferta de produtos nas gôndolas” nas unidades.

O cenário no maior mercado da rede na tarde da quarta era de prateleiras vazias e poucos clientes ainda no garimpo por algum produto pontual ou oferta específica. A divulgação em redes sociais da liquidação do estoque de itens – a maior parte deles com descontos de 50% – atraiu multidões às lojas no dia anterior. O excedente foi levado até a matriz, que fica aberta até a venda de todas as mercadorias.

Uma situação se repetiu nos seis supermercados: funcionários com expressão triste, alguns deles próximos ao choro em alguns momentos. O futuro dos cerca de 200 colaboradores será definido pela cooperativa junto com os sindicatos da categoria.

Negociações esfriam

Com a informação de que os prédios dos supermercados fazem parte das garantias bancárias da cooperativa, as tratativas pela venda das unidades travou. A Rede Andreazza, com sede em Caxias do Sul, tinha acerto encaminhado, mas desistiu nas últimas horas. A condição para fechar o negócio era que o interessado adquirisse as seis unidades restantes.

Representantes do Grupo Passarela, de Santa Catarina, visitaram a unidade matriz dos supermercados, no bairro Languiru, e o centro de distribuição, no bairro Teutônia. Informações extraoficiais dão conta que seria a última rodada de visitas da rede catarinense.

Existe a possibilidade da cooperativa convocar a imprensa ainda esta semana para atualizar os movimentos de venda. Em nota, a Languiru diz que “a partir da consolidação de negociações em andamento, fará a devida divulgação, respeitando sigilo e confidencialidade que as mesmas exigem nesse momento, as etapas dos trâmites e as organizações envolvidas no processo.”

Última compra

Morador da Linha Frank, em Westfália, André Luís Schneider, 49, trabalhou por cerca de 20 anos nos supermercados da cooperativa. Ele foi com a família à loja do bairro Languiru para uma provável última compra. “Eu acredito que vai fechar as portas antes do sábado. É uma pena para a população de Teutônia e das cidades aqui ao redor.”

Schneider conta que atuou nas unidades matriz, de Canabarro e Poço das Antas, entre 1991 e 2010. E atribui a crise que culmina no fechamento ao que avalia como más administrações. “É triste ver as prateleiras e gôndolas vazias. No meu tempo tinha ótimo atendimento, agora está tudo parado, tudo piorou nos últimos tempos”, acrescenta.

Frigorífico com venda estagnada

A falta de novidades na negociação do frigorífico de suínos da Languiru, em Poço das Antas, aumenta a preocupação da região quanto ao desfecho do negócio. No município, a expectativa da população é grande, sobretudo para a retomada das atividades e o consequente reaquecimento da economia.

A prefeita Vânia Brackmann realça o incômodo que a situação causa na cidade. Dos 600 funcionários que trabalhavam no frigorífico, cerca de 120 residem em Poço das Antas. “As pessoas nos veem nas ruas e perguntam quando vai voltar o frigorífico.”

Impacto no município

O tempo com as máquinas paradas preocupa a gestora, assim como os prejuízos ao ecossistema econômico criado em torno da planta produtiva. “Uma família que tinha uma carrocinha de cachorro-quente nas proximidades parou o negócio”, exemplifica.

Em relação aos produtores rurais, Vânia diz que a maior parte deles conseguiu se vincular a outras integradoras, em especial no segmento de aves. Para ela, o maior impacto é sobre a parcela da população que não se recolocou no mercado de trabalho.

Tratativas em segredo

As tratativas para a venda da planta ocorrem em sigilo. As negociações estão em patamar avançado com uma das interessadas, mas somente após a assinatura do contrato e a confirmação do nome da empresa devem ser divulgados maiores detalhes. Entre os pontos que devem ser encaminhados, estão a absorção dos associados e a parceria para o abate de aves no frigorífico de Westfália.

A Cooperativa de Suinocultores dos Vales (Coosuval) se apresenta como uma compradora em potencial. No dia 17, uma reunião com cerca de 180 associados definiu pela sequência das tentativas de negócio. De acordo com esta cooperativa, existe um processo que tramita em segredo de justiça contra a Languiru, onde é solicitada prioridade na compra do frigorífico.

Condomínio de credores

A Languiru publicou na segunda-feira, 23, a listagem com valores em aberto com fornecedores, associados e prestadores de serviço. Outro documento especifica as dívidas com instituições financeiras e fundos. As relações podem ser acessadas em liquidacao.languiru.com.br. O débitos somados ultrapassam a marca de R$ 1 bilhão.

No fim de agosto, em audiência pública na Expointer, o liquidante Paulo Roberto Birck mencionou a possibilidade de divulgar as informações até o fim de setembro. O plano de pagamentos ainda não foi disponibilizado. De acordo com a cooperativa, o planejamento será disponibilizado após o prazo para habilitações e divergências de crédito, com a consolidação da lista dos credores.

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